Registo da antropóloga Paola Klug,
Fotografia tirada na Nicarágua por Candelaria Rivera,
do ensaio fotográfico: "Amor de Campo"
Fotografia tirada na Nicarágua por Candelaria Rivera,
do ensaio fotográfico: "Amor de Campo"
"A minha avó dizia-me que quando uma mulher se sentisse triste, o
melhor que podia fazer era entrançar o seu cabelo; de modo que a dor
ficasse presa no cabelo e não pudesse atingir o resto do corpo. Havia
que ter cuidado para que a tristeza não entrasse nos olhos, porque iria
fazer com que chorassem, também não era bom deixar entrar a tristeza
nos nossos lábios porque iria forçá-los a dizer coisas que não eram
verdadeiras, que também não se metesse nas mãos porque se pode
deixar tostar demais o café ou queimar a massa. Porque a tristeza
gosta do sabor amargo.
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo,
Quando te sintas triste menina- dizia a minha avó- entrança o cabelo,
prende a dor na madeixa e deixa escapar o cabelo solto quando o
vento do norte sopre com força. O nosso cabelo é uma rede capaz
de apanhar tudo, é forte como as raízes do cipreste e suave como
a espuma do atole.
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda
Que não te apanhe desprevenida a melancolia minha neta, ainda
que tenhas o coração despedaçado ou os ossos frios com alguma
ausência. Não deixes que a tristeza entre em ti com o teu cabelo
solto, porque ela irá fluir em cascata através dos canais que a lua
traçou no teu corpo. Trança a tua tristeza, dizia. Trança sempre a
tua tristeza.
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a
E na manhã ao acordar com o canto do pássaro, ele encontrará a
tristeza pálida e desvanecida entre o trançar dos teus cabelos…"
Nenhum comentário:
Postar um comentário