dizer sim ou não para alguma coisa?
Olhar para o passado é um jeito de identificar
os seus bons e maus hábitos mentais.
Onde estou? Essa é outra pergunta reveladora
e nada óbvia, pois para constatar a pessoa
é preciso uma boa dose de coragem e honestidade.
Somos muito covardes para olhar com humildade
para os nossos fracassos e muito iludidos com
as escolhas que fizemos.
Na maior parte das vezes estamos agindo
automaticamente e sem nenhuma noção do que fazemos.
A impulsividade predomina na maior parte do que
fazemos e apenas reagimos ao que surge do lado de fora.
Existe tanta fuligem sobre aquilo que
chamamos de “eu” que posso garantir que
qualquer autodefinição que tente fazer será
um rascunho mal feito das opiniões dos outros
misturada com aquilo que aprendeu no seu meio
familiar e cultural.
Provavelmente você vem tentando mais se auto
afirmar do que questionar com seriedade o
motivo pelo qual faz o que faz.
Esse espaço (geográfico e psicológico)
que vivo potencializa ou diminui minhas
opções pessoais de crescimento?
As pessoas das quais me cerco favorecem ou
limitam meu amadurecimento?
Como posso ampliar meu grau de escolhas
partindo dos recursos que tenho agora?
O que de bom posso tornar excelente e o
que de médio posso tornar bom?
Onde vou aumentar meu repertório intelectual e
emocional?
Para onde vou?
Ainda que não seja claro imaginar o dia de amanhã
(principalmente para quem ainda está cego
sobre o ontem e o hoje) também não podemos
negligenciar uma dose de futurologia.
O porvir não é um testes às cegas, mas
um resultado de uma série de decisões
que encadeadas com elementos externos
será o seu futuro hoje.
Ainda que não saiba o que cruzará o seu
caminho precisa estar bem preparada.
Quais as imagens de si mesmo que quer ter?
Como anseia ver sua vida realizada?
Se pudesse conversar com sua versão velhinha
o que gostaria de estar ouvindo?
Pelo que gostaria de ser lembrado
depois da morte?
Que valores foram essenciais para que
realizasse uma vida significativa?
Perceba que essas perguntas não disseram
nada a respeito de relacionamento amoroso,
mas com certeza serão influenciadas diretamente
pelo aumento de sabedoria proporcionado
pela curiosidade saudável.
Escreva tudo no papel (evita se perder em
devaneios e incompletude de tarefa)
e depois ponha a mão na massa, de preferência
colocando datas e metas palpáveis.
Quando somos pequenos, os pais nos levam
a criar figuras internas de homens e mulheres
que motivarão, em boa parte, a atração que
sentimos por alguém. As imagens nascem,
de início, do tipo de relação que temos
com a mãe. Isso talvez explique por que há
homens que se casam com tiranas.
Mas não basta para entender, pois em amor nada é garantido.
O belo poema Amor,
de Carlos Drummond de Andrade (1902 1987)),
toca na incógnita da atração que sentimos
por uma determinada pessoa, enquanto
outra, talvez muito interessante, nada nos desperta.
O poeta escreve:
“São dois em um: amor sublime selo/
que à vida imprime cor, graça e sentido./
O ser busca outro ser, e ao conhecê-lo,/
acha a razão de ser já dividido.”
Um poeta tem grande sensibilidade para
falar de amor.
A psicologia, embora de outra maneira,
também é sensível ao assunto, e
utiliza-se da análise para perceber o que
motiva as escolhas amorosas.
De início convém observar que apaixonar-se,
ter um par, um companheiro é desejo quase unânime.
Poucos querem ficar sós.
Mesmo antes da adolescência, na puberdade,
crianças já buscam namoradinhos;
paqueram brincando.
Não ser escolhido, ser rejeitado é o pavor de todos.
Mas não se limita a um belo corpo,
roupas de grife, ser esportista ou intelectual,
o que vai determinar se uma pessoa é
mais ou menos atraente.
Existem fatores internos, emoções,
sentimentos e os famosos complexos,
com maior poder sobre essas escolhas do que
podemos sequer pensar.
Carl Gustav Jung ( 1875 -1961),
renomado psiquiatra suíço, disse que somos
todos psicologicamente andróginos.
Muitas tradições e mitos trazem a idéia de
que o homem original era masculino e feminino.
Eva foi criada a partir de uma costela
de Adão, que portanto já trazia o
feminino dentro de si.
O filósofo grego Platão ( 427-347 A. C)
nos conta um mito no qual se diz que os
seres originais eram redondos,
com quatro braços, quatro pernas e duas faces.
Esses seres eram maravilhosos e completos.
Os deuses, invejosos, os cortaram em duas
metades, a masculina e a feminina.
Desde então as metades ficam se procurando;
quando se encontram têm um sentimento
tão grande de união, de completude,
que não querem separar-se nunca mais.
E temoem que os deuses,
novamente com inveja, os separem.
Para Jung , todo homem tem um lado
feminino interno que ele chamou de anima
(alma em latim); e toda mulher tem um
lado interno masculino, animus (espírito).
A anima e o animus. segundo o psiquiatra,
é que se responsabilizam pela atração que
sentimos por uma pessoa determinada.
São figuras internas, fundamentais para
realizarmos nossas escolhas amorosas.
Elas se formam em nossa imaginação,
primeiramente nas relações com a mãe;
depois, com o pai, parentes, professoras, amigos.
Nossa imagem interna será projetada no parceiro.
Se encontramos alguém que se parece com
nossa figura interna, temos a tendência de
sentir atração por ela.
Por isso é tão importante o relacionamento
da criança com os pais.
Neste artigo comentarei apenas a relação mãe-filho.
* A mãe tem de ser bastante boa, acolhedora,
amorosa, para que o filho se sinta amado, valorizado.
O pequeno interpreta assim o comportamento materno:
“Se minha mãe me ama, é porque sou bom, bonito”.
A auto-estima se forma a partir desse contato.
Se a mãe for negativa, destruidora ou agressiva,
a criança vai achar de si mesma que não é
suficientemente boa.
* Um menino que foi abandonado pela mãe
formará uma imagem interna feminina negativa
e terá a tendência de se apaixonar por pessoas
que o rejeitam, traem ou agridem, repetindo o
modelo inicial de sua vida.
* Se a mãe exagerar nos cuidados e mimá-lo
em excesso, também poderá causar males.
O filho ficará preso a ela, sem coragem de
enfrentar o mundo; e, o que é pior, lhe
faltará capacidade de amar.
Nenhuma mulher poderá competir com a
mãe perfeita. Provavelmente será machista,
inseguro e imaturo.
Depois de tudo isso, é preciso destacar o seguinte:
não há garantia nenhuma em questões amorosas,
mesmo que a mãe tenha sido ótima.
Mas o carinho e o bom senso nas relações
com os filhos ajudarão a formar pessoas saudáveis
que terão capacidade de se relacionar de
maneira digna e amorosa com o parceiro.
Para voltar a Drummond: “
Amor, sublime selo, que à vida imprime cor, graça e sentido.”
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