A maior parte dos sofrimentos do coração surgem
de uma dimensão pouco generosa, desprendida, livre
e fluida da nossa mente. O problema é que a isso
chamamos de amor, como se fosse sinônimo de apego.
Tanto é que a maior parte das soluções que se propõe
ao mal de amor costumam seguir na linha de desapegar
da pessoa. Imediatamente a reação da pessoa é dizer:
“mas como vou me desapegar se eu a amo?”
A idéia que se tem é que a única maneira de amar é
truncada, sofrida, agarrada, ciumenta, como se a
ausência de um desses elementos representassem
frieza ou falta de amor.
Amor mesmo, muitos acreditam, é rasgado, agarrado
ao calcanhar e com marcação cerrada.
Quando a proposta de desapego vem não conseguem
imaginar um amor sem esse sentimento de posse.
Ser apegado não quando você tem alguém em sua
vida, mas quando esse sentimento de posse possui
você. Se você é incapaz de contemplar bem-estar,
alegria ou vida sem que a pessoa siga conforme suas
expectativas então é de apego que falamos.
Você está fixado na pessoa sem nenhum espaço de
liberdade para que qualquer um dos dois se movimente.
O resultado é sempre tóxico, problemático e
com final ruim. O amor surge e se alimenta exatamente
dessa dimensão livre que sente espaço para crescer, se
modificar, caminhar em qualquer direção.
O amor que as pessoas imaginam sentir é como um carro
que nunca vira para a esquerda ou dá marcha ré.
Por seguir sempre numa direção cansa o motorista
que inevitavelmente desistirá de fazer qualquer
viagem de longa duração nele.
Exatamente por permitir qualquer movimentação
o amor maduro é altamente cativante e magnético
por não pressupor uma relação acorrentada e cheia de peso.
Para treinar o desapego não é preciso se despedir de
nada, a não ser da própria sensação de que a pessoa
amada é imprescindível. Ambos são seres livres que
resolveram seguir livres um ao lado do outro cultivando
apoio, apreço e estímulo.
Que tipos de práticas podem ajudar?
- Cultivar uma vida com menos certezas absolutas
- Engessar a pessoa amada em rótulos e posições imutáveis
- Não acorrentar uma agenda sempre mútua sem espaços
para práticas individuais
- Nutrir gostos pessoais e uma identidade própria
- Manter privacidade de assuntos pessoais que não queira compartilhar
- Considerar o impacto de suas ações sobre a liberdade da outra pessoa
- Pensar menos na pessoa amada sobre o que ela pode
fazer para o tornar feliz
- Colocar em xeque suas seguranças, garantias e previsibilidades
- Experimente exercitar uma linguagem com menos
pronomes possessivos para ver como a fala reflete a mente:
meu, minha, seu, sua, nosso, nossa
- Imaginar sua vida sem a pessoa amada, como se ela
simplesmente sumisse.
Como seguiria em frente?
- Abandonar o ciúme como prática usual na relação de casa
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